O manifesto sobre a exotificação de corpas estranhas que produzem arte.
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- 16 de jan. de 2020
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Ser um corpo, que produz arte no Brasil é um desafio constante, e se intensifica quando se é um corpo estranho, um corpo fora, um corpo que não está em lugar nenhum, um corpo desconfortável. “Bem-Vindo ao Zoo” trata exatamente desse zoológico criado pela sociedade aonde as atrações principais são essas corpas.

O paradoxo dessa situação surge como uma urgência a ser falada, cantada, visualizada e materializada por Fefa, uma multi-artista que está começando sua carreira na música tratando desse tema em especifico no seu primeiro single “Bem-Vindo ao Zoo”.

Falar sobre essa exotificação nos leva a algumas camadas consideráveis de ações, lacunas e premissas criadas por conta do entretenimento. O consumo desenfreado de arte pela população cria uma vontade apenas de devorar essas corpas e as artes que elas produzem, mas apenas isso, é infelizmente só sobre isso. Não há um estimulo, não há respeito e muito menos empatia para com o trabalho exercido pela artista. O público clama pela boba da corte apenas pra satisfazer as suas vontade e serem entretidas, transformando essa ação num espetáculo grotesco aonde não se respeita essa corpa e sim apenas potencializa violências.
“Há um incomodo na minha voz, uma rachadura. Além das disforias que permeiam a minha corpa, eu relutei muito em deixar a voz final da forma que está, mas quis deixar ela dessa forma, pra que as pessoas escutem esse incomodo, que é o mesmo incomodo que eu sinto quando sou exotificada, quando eu não sou respeitada, quando não sou paga, quando preciso engolir algo apenas pra ter uma falsa garantia de receber meu cachê.”

A glamourização dessas corpas ocorre de uma forma curiosa e desrespeitosa, uma vez que as mesmas pessoas que as vangloriam e transforam em deusas e deuses em redes sociais são também as que não pagam por esse consumo, que não compartilharem esse trabalho, e essencialmente a não respeitarem toda uma história e trajetória de vivências que essa corpa carrega. Com esse processo se cria o imaginário de que artistas não precisam pagar suas contas, se alimentar, e principalmente conseguir viver e continuar produzindo arte.
Partindo numa resposta a isso tudo, Fefa cria formas de expressar essas angustias que a atravessa de uma maneira ressignificada através da música, como um respiro a essa exposição.
O videoclipe terá sua estreia nessa segunda-feira dia 20 de Janeiro enquanto o single será disponibilizado em todas as plataformas digitais na sexta dia 24.
Fonte : Autoral
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